Te ouvi atentamente. Cada pausa tua me
causava dor no coração. Sua voz me acalma, suspiro por suspiro você
rouba todo o meu ar. Você me falava sobre o que jantou ontem a noite
e eu escutava teus versos como quem escuta a mais bela poesia já
criada. Ficamos horas no telefone e sua voz ia se tornando só minha,
minha, minha. Eu nunca deixaria sua risada tocar na rádio.
Já eu, não precisei falar muito. Eu
falo tudo errado, eu só sei dizer que te amo e é errado nosso amor.
E você não quer ouvir. Posso te contar sobre alguma banda nova que
conheci, ou sobre alguma nota ruim que tirei, normal. Mas se eu falar
demais corre o risco de cair a ligação. Você sabe. O sinal do
telefone é bom, mas nossa conexão continua péssima.
Isso tudo durou umas 3 horas.
“Tenho que desligar”, você disse.
“Ah, tudo bem, ok...”
“Tchau. Beijo.”
E então... você desligou. Eu
permaneci de olhos fechados, com o telefone sobre a bochecha, por
algum tempo. Mas não senti nada. Seu beijo não chegou!
Liguei para a Central e reclamei.
“Moça, meu plano é ilimitado, sem fronteiras, sabe? E o beijo
dele não chegou! Não senti nada aqui!” Ela riu e desligou na
minha cara.
“As pessoas não tem um mínimo de
compreensão com os loucos apaixonados!” eu disse para você,
quando te liguei no outro dia. Você também riu, e seu riso me
chamava de boba. Desligamos sem beijos, outra vez.
Depois disso, nunca mais te liguei.
Você nem sentiu falta. Normal.
Troquei meu celular de última geração
por um Nokia 5125.