terça-feira, 10 de abril de 2012

Quando eu morrer

Talvez quando eu morrer
tu continues sem se lembrar de mim.
Eu não sei
mas acho que sim.
Acho que vou continuar te amando
até a morte
além da morte.
E então quando eu morrer
vou dar um jeito de chegar até ti
jogar minhas palavras no canto da tua sala
perto da janela dos teus dias
sempre ensolarados.

Quando eu morrer
mesmo se for amanhã
ou só daqui 100 anos…
Eu vou dar um jeito de entrar no teu sonho
e fazer tu te lembrares de mim.
Eu vou fazer com que te lembres de mim.
E tu vais acordar de manhã
sonolento
se perguntando se um dia eu existi
ou se sou apenas algum sonho teu que parecia real.

Mas eu farei tu te lembrares de mim.
E eu vou falar pra ti
eu vou gritar pra ti
todas essas palavras que ficaram engasgadas na minha garganta
por tantos e tantos anos.

Mas se tu quiseres voltar antes
e se quiseres aproveitar esse tempo que eu estou aqui
pra me dizer adeus…
Vem logo!
Porque nós nunca sabemos o dia de amanhã
mas eu posso te dizer que eu vou te amar amanhã
e depois
e depois
e até que a morte chegue
e além dela
e talvez até além de tudo
embora eu ainda nem saiba o que o tudo é.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Abismo

Havia um abismo no final da praia, era lindo.
Era lindo até alguém resolver se jogar de lá.
"Suicídio não é moda, e nem sempre é drama. Ninguém entende um suicida até um dia, quem sabe, se tornar um. Espero que não te tornes: é muita dor." Era isso que estava escrito em uma placa na frente do abismo com a vista pro mar. Uma menina havia deixado lá, pois depois de pensar muito na possibilidade de acabar com a vida, encontrou alguns prós para enfrentá-la e resolveu deixai-los ali, como um pequeno aviso prévio sobre o que vem depois de pular. "O suicídio é algo mais perigoso do que parece." O quase-suicida leu. "Você pode se jogar daqui de cima e acabar tetraplégico. Acabar cego, surdo, mudo, ficar alguns meses na UTI e sair de lá mal conseguindo pensar. Nunca se sabe. E depois de dar tudo errado (porque vai que a gente se joga daqui e a morte não vem?) fica difícil fazer um novo plano suicida." O menino deu um passo pra trás, se distanciando do abismo. "Além disso, na vida tudo passa. Todos nós temos problemas, alguns mais que outros, é claro, mas todos os problemas passam, e as dores certamente passarão também, independente do tamanho que elas tiverem. O que está te levando a fazer isso? Apenas lembre-se que a morte não passa. Não tem como voltar atrás. Não tem essa de segunda chance, de estar arrependido." O menino parou. Sentou. Pensou. E acho que o nosso maior erro é pensar demais. Ele se lembrou disso e daquilo, dos tantos motivos que o tinham levado para tão perto da morte. Afinal, talvez para um suicida a dor da morte seja bem menor do que a dor que se sente mais pra dentro.
"Quando uma pessoa pensa em suicídio, ela quer matar a dor, mas nunca a vida." Augusto Cury
Acho que um "tudo passa" não é o bastante para alguns suicidas resolverem enfrentar a vida. Acho também que eles não temem o mistério, a morte ou essas coisas um pouco obscuras para a maioria das pessoas. 
E ele pulou. Se afogou, pensou em desistir mas agora era impossível. "Não se volta atrás depois que se escolhe a morte." Basta agora (como diz o Muse), conspirar para acender todas as almas que morreriam só para se sentirem vivas