segunda-feira, 19 de março de 2012

Cinzas

Não me lembro se quando eu a conheci ela já era como é. Não sei se seus olhos verdes (descobri há poucos dias que eram verdes, pois nunca havia olhado para eles, acho que tinha medo) tinham o mesmo fogo de agora, e se as suas palavras um dia já foram mais meigas. Não sei se o seu sorriso antes aflorava com mais frequência e se ela tinha mania de ficar imaginando. Será que ela sempre foi tão calada assim? Esses dias ela me disse que rosa já foi sua cor preferida. Será que ela ouvia música gótica nessa época também?
Só o que posso dizer, é que rosa não combina mais com ela. Nem azul, e muito menos amarelo. Para ela eu daria cinza ou preto. Posso a considerar transparente às vezes, também. E embora seja difícil falar sobre ela, posso dizer também que seus olhos verdes (que pra mim sempre foram vermelhos, na verdade) já estão bem longe daqui. Por alguns minutos achei que ela voltaria para me salvar, mas então uma voz surgiu na minha lembrança: "eu não sou o tipo de menina boazinha, sabe?". Agora eu sei.
O fogo está em todos os cantos. Talvez por isso eu sinta ela bem aqui, bem perto, como nunca. Talvez eu deveria dar vermelho pra ela, mas já não há tempo… Acho que estou sangrando e o tempo parece estar se esgotando. Talvez minha respiração esteja ficando cada vez mais lenta, ou mais rápida. Como saber quais são os últimos suspiros? Talvez eu deva levantar daqui e correr para pegá-la, alcançá-la e jogá-la aqui também. Nós estávamos juntos, eu não devia morrer sozinho. Eu nem devia morrer… Nós somos tão jovens.  Mas não, eu decidi deixá-la ir. Eu até quis gritar "menina, corre antes que te peguem!" mas não agüentei. Mas eu confio nela, sabe, eu sei que ela vai se dar bem. Eu sei que ela vai se livrar de tudo e de todos, eu sei que ela vai dar a volta por cima, seja por bem ou por mal. Eu confio nela. E confio porque eu sei de tudo o que fiz para aquela garota que já fez muito por mim. Ela se calou quando devia ter gritado comigo, ela queimou as palavras de amor que ela tinha guardado pra mim. E eu sei que fiz ela sofrer, sei que ainda faço. E não duvido que ela esteja sentada debaixo de alguma árvore chorando pelo o que fez, ao mesmo tempo que luta para se levantar e fingir que não se arrepende nem um pouco. Eu sei que ela tem muito fogo dentro de si e que às vezes derrete. Sei disso porque vi no seu rosto algumas lágrimas quando ela foi botar o fogo aqui dentro. E sei também porque vi algumas fotos nossas dentro da sua mochila hoje de tarde. Eu até quis repetir para ela que estava arrependido por tudo que fiz antes, e que a amava, mas eu não disse. Talvez porque ela odeia isso. Talvez porque ela me odeie, embora me ame. Talvez porque essa coisa de "últimas palavras" seja clichê demais e nós odiamos clichês. E últimas palavras porque eu já sabia que ela estava tramando algo. Querida, se você soubesse que é tão previsível… 
E então acho que é isso. Acho que vou morrer a vendo por todos os cantos no meio dessas chamas, sem conseguir levantar. Acho que os últimos suspiros estão chegando. E mais estranho que ele, é a sensação que eu tenho de morrer com ela. Todas essas chamas, esse sangue e essas cinzas (a sua cor…). Tudo aqui é você, menina. E talvez quando eu morrer, você me ouça gritar aí dentro. Ou ouça o mesmo silêncio de sempre, o meu silêncio. Talvez as músicas góticas não funcionem mais. Talvez a maquiagem não esconda mais. Talvez o fogo se apague aí dentro, quando os bombeiros chegarem aqui pra apagar tudo. Ou talvez o fogo continue crescendo, e se isso acontecer, menina, você sabe que banho de água fria não resolve. Mas eu espero que você ao menos sorria uma vez quando meu coração parar de vez. Seu sorriso era tão lindo…

quinta-feira, 15 de março de 2012

M(eu)s problemas

Talvez eu não veja mais o brilho pelas ruas que ando, ou me sinta bem ouvindo o canto dos pássaros na minha janela. Talvez música agora seja um refúgio e não uma inspiração ou um meio para eu me acalmar. Talvez a chuva só me traga um pouco mais de desânimo, e o amor, um pouco de medo. Talvez dançar me dê preguiça, e rir também. Acho que dormir não me descansa mais e sonhar não faz com que eu acorde mais alegre. As pessoas me dão sono e até nojo, às vezes. Pensar no futuro só me traz desilusões e criar filosofias me dá vontade de desaparecer. Acordar de manhã é a coisa mais difícil do dia e dormir a hora mais esperada. Não tenho tempo pra chorar, e ser feliz parece perda de tempo, às vezes. A simpatia que eu tinha antes parece me cansar, falar na maioria das vezes é desnecessário e o silêncio parece estar gritando nos meus ouvidos. Cantar está chato, não tenho vontade de estudar e desenhar sempre me deixa com raiva. Sair exige muito (muito, muito, muito) esforço. Escrever dói. E olha: nem você parece prestar mais.

Talvez o problema seja eu.

Eu preciso escrever, eu preciso escrever, eu preciso escrever!
Talvez falte inspiração. Talvez eu te perdido de vez, ou me perdido de vez.
Talvez.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Versinho pra ti

É tão difícil passar um dia sem escrever um versinho pra ti.
Meu amor, eu ainda estou aqui!
Vivendo por ti
Pra ti
Infelizmente, não em ti.

sexta-feira, 2 de março de 2012

E você

Você. Tantos sonhos, planos, metas. Promessas, juras. Tanto amor. Tanta guerra, raiva, confusão, lágrimas, gritos. Você. Tantos sorrisos, risos, choros, abraços. Solidão, multidão. Tantas músicas, silêncios, baterias, canto de passarinhos. Tantas memórias, lembranças, fotos, saudades. E você. Tanta gente, chegando, indo, nunca vindo. E muitas novidades, coisa pra fazer, possibilidades. Ruas, prédios, estradas, casas de campo. Tantas bibliotecas e tantos e tantos livros, histórias, palavras. Ideias. Tantos beijos, amores, brigas, desculpas, e mais beijos. Tantas despedidas. Tantos planetas, estrelas, países, mares, cidades, rios, florestas, árvores, flores, sementes. 13 primaveras. (você) Tanto cobertor, travesseiro, ursinho de pelúcia, café com leite, brigadeiro de colher. Festa de criança, balada, cinema aberto, fogueira com marshmallow, luau. Tantos números de telefone. Tantos filmes de amor, comédia, terror, suspense, drama. Tanta (v)ida real, tant(o) problema, e tanto psi(c)ólogo tamb(é)m. Tanta coisa velha, museus, obra de arte, filósofo, teoria, religião, jeito de viver, cultura, loucura. E tantas outras coisas. E tantas outras páginas. E você. Sempre você. Mas tem tanta coisa! Por que teve de ser logo você? Você ali, você lá… E eu faço de tudo, eu estudo, ouço musicas novas, conheço gente nova, leio coisa nova, penso diferente… E você. Você está em tudo. Aonde eu vou, no que eu penso e no que eu esqueço. Você atravessa o mundo, move continentes, faz chover. Me faz errar as contas, esquecer a matéria, perder a cabeça, dormir demais, acordar todos os dias e seguir em frente. Você, você, você. 
Tanta gente, e olha que azar! Logo você. Que azar (você), que azar…