4h34 da madrugada. Completo silêncio, silêncio que dói,
ensurdece. Ela não conseguia ouvir nem ver os ponteiros do relógio com a imagem
dos Beatles no seu quarto. Como sabia que horas eram então? Ela não sabia. Sabia
apenas ter sonhado que estava caçando borboletas nas estrelas gritando “Querido!
Isso é por você!”. E, aliás, nem sequer sabia se havia sido um sonho ou se
agora, esse silêncio que era o sonho. Preferia que isso fosse apenas um sonho,
e que ao acordar estaria ainda a caçar borboletas nas estrelas por ele. Mas
como saber? Piscou os olhos algumas vezes e suspirou tristemente ao saber que
era tudo real.
Que texto bobo, algumas pessoas pensam. Como se elas nunca tivessem
feito isso antes.
Pediu desculpa para si mesma ao perceber a situação em que
estava. Xingou-o mentalmente por fazê-la passar por aquilo tudo. Mas não ousou
dizer seu nome, nem nenhuma palavra, pois o silêncio era a única coisa que ela
tinha e não queria perdê-lo por culpa do menino dos seus (literalmente) sonhos.
E percebeu ainda, que ela perdia tempo demais e resolveu ir arrumar seu relógio.
Levantou-se pedindo, ainda mentalmente, para o silêncio não
ir embora. Andou devagar, sentindo o chão frio que a segurava. Parou em frente
ao relógio (ou ao menos o que ela achava ser um relógio, pois a escuridão também
invadia tudo e talvez ela –ou o relógio haviam se perdido) e botou a mão sobre
ele, na tentativa de achar os ponteiros. Sentiu, então, que eles estavam parados
e empurrou-os para o lado. “tic tac”, ouviu. Sorriu ao ver que havia conseguido
arrumá-lo, mas segundos depois culpou-se por ter feito o silêncio ir embora. Deitou-se
a reclamar que conseguia estragar e fazer com que tudo o que gostava ir embora.
Resolveu dormir e lembrou-se que o relógio devia estar atrasado. Sorriu ao
pensar que teria mais algumas horas para dormir, sonhar ou talvez viver no
mundo real. Porque ela já tinha sonhado demais este sonho naquela noite.
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