Quis liberdade e me apareceu você.
“Quando eu puder dirigir, compro
um carro e vou te buscar. A gente foge e mora lá dentro.”
Eu
acredito na gente. Acredito que essas coisas duram. Só que eu sou
uma criança que mal sei cuidar de mim – imagina de nós dois. Mas
você me espera, não espera? Até eu aprender a cozinhar, quem sabe,
ou desviar o bastante do dinheiro do lanche para fugirmos. Sim, você
me espera.
Vi nos filmes que o amor liberta. E
você, declarando amores por mim... Você, apaixonado pelo meu
sorriso. Você, gostando até dos meus defeitos... A gente pode matar
aula pra tomar sorvete e, de tão felizes, sorrir pra desconhecidos
na rua. Ah, mas você não me deixa sorrir pra desconhecidos na rua.
É muito amor, sabe, até sufoca.
Eu, que nunca havia sido amada, até me
assustei! Esses abraços que não soltam e essas declarações que
não sei fazer e essas caixinhas escuras em que nos enfiam e esses
buracos enormes que cavam pra nos esconder do mundo – que eu só
não cavei, admito, porque meus outros amores nunca quiseram ser meus, talvez porque
soubessem que ser de alguém (ainda mais alguém como eu) é quase
suicídio, é loucura, é pesado.
E essa liberdade que me contaram dá
medo, porque o amor é muito grande e a gente desaprendeu a lidar com
tanta felicidade e desejo e poder, e acabamos nos prendendo e
perdendo toda a liberdade que o amor nos deu. E nos prendemos à
rotina, porque não durou tempo o bastante pra aprender a cozinhar ou
juntar dinheiro.